sábado, 19 de novembro de 2016

Escorrendo para viver novamente



“Enquanto eles se martirizavam pela probabilidade mais precisa da existência continuavam as estrelas se abraçando com seus corpos atômicos”

     Eis o tipo de trabalho que surge do meu conforto linguístico. Principalmente pela noção de atmosfera que se destaca na pintura, um elemento visual que anda comigo em boa parte dos trabalhos mais poeticamente desenvolvidos. Criei nessa imagem um ambiente desértico que funciona como suporte e também como personagem. Tanto as nuvens como o chão são representações de formas simbólicas, ambas tratadas como componentes de uma narrativa. Não que haja uma história cíclica específica, na verdade a existência em si dessas coisas caracterizam uma relação de signos. Gosto da forma que as nuvens fazem durante uma tempestade, o movimento delas parece ser ensaiado, o fluxo me remete a um corpo que cobre a terra como que um extenso lençol. A terra inclusive faz da sua superfície firme e densa uma residência suficiente à qualquer condição. E antes que nuvem e terra parecem distantes penso no raio, que com toda sua potência e energia possibilita uma fecundação efêmera entre estes seres necessitados. E aquela esfera que flutua no espaço presenciando esta gestação? Um corpo físico ou um ser pensante, talvez! Todos símbolos. Todos pensados a fim de me representarem. Representarem minha condição de pai.

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