sábado, 19 de novembro de 2016

Escorrendo para viver novamente



“Enquanto eles se martirizavam pela probabilidade mais precisa da existência continuavam as estrelas se abraçando com seus corpos atômicos”

     Eis o tipo de trabalho que surge do meu conforto linguístico. Principalmente pela noção de atmosfera que se destaca na pintura, um elemento visual que anda comigo em boa parte dos trabalhos mais poeticamente desenvolvidos. Criei nessa imagem um ambiente desértico que funciona como suporte e também como personagem. Tanto as nuvens como o chão são representações de formas simbólicas, ambas tratadas como componentes de uma narrativa. Não que haja uma história cíclica específica, na verdade a existência em si dessas coisas caracterizam uma relação de signos. Gosto da forma que as nuvens fazem durante uma tempestade, o movimento delas parece ser ensaiado, o fluxo me remete a um corpo que cobre a terra como que um extenso lençol. A terra inclusive faz da sua superfície firme e densa uma residência suficiente à qualquer condição. E antes que nuvem e terra parecem distantes penso no raio, que com toda sua potência e energia possibilita uma fecundação efêmera entre estes seres necessitados. E aquela esfera que flutua no espaço presenciando esta gestação? Um corpo físico ou um ser pensante, talvez! Todos símbolos. Todos pensados a fim de me representarem. Representarem minha condição de pai.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Plenitude acentuada

Processos poéticos...


     A provocação imagética é sim uma intrínseca maneira de aprendizagem. Dificilmente nego uma oportunidade de conhecer e decodificar experimentações de outras linguagens artísticas, entendo que enxergar e participar do processo de criação de outro(as) artistas contribui para minha concretização linguística. Pois sei que neles haverão inquietações as quais ainda não tinha descobrido.
     A pintura digital acima - Mecanicidade orgânica como título interpretativo - é resultado de  uma leitura/interpretação visual de registros fotográficos de um processo de experimentação cênico. Esse trabalho é desenvolvido pela artista-professora Erica Bianco Bearlz (UFG) que vem aprofundando um estudo de preparação poética corporal com alunos, artistas e pesquisadores. 
     Me envolvi prazerosamente nessa construção com a intenção de problematizar, também, a minha forma de produzir. A provocação estava posta, não haviam regras pra os artistas envolvidos, bastava que se sentissem confiantes em apresentar seu trabalhos. Foram várias fotos analisadas, muitas interpretações ocorreram, algumas insuficientes esteticamente, mas boa parte bem esquematizadas. 
     Tecnicamente as linhas, cores e formas foram ponto chave. De imediato esses elementos satisfizeram a necessidade visual que tive, mas acima de tudo a composição triangular (da própria foto selecionada) cuminol na experiência estética final.
     

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Minhas linguagens de mundo

LACUNAS DO MEU ESPAÇO-TEMPO: SAGA CINZA
     Os quadrinhos aqui surgem, acima de tudo, com uma necessidade de compartilhamento. Cada um é projetado a fim de expor a representação que faço das ações e experiências da vida. São histórias fechadas, cada quadro respeita sua atmosfera e evita influenciar os demais, logo não há sequência entre elas apenas lacunas existenciais preenchidas pelo tempo e o espaço. O processo de construção desses “relatos visuais” demanda competência e um fluxo criativo desacelerado, deixando os quadrinhos livres de cronogramas e obrigações de entrega/postagem. Assim como não existe uma ordem de leitura, apesar de estarem escaladas na vertical. O publico é totalmente livre pra ler da maneira que mais desejar, ou que se sentir mais confortável. De qualquer forma será sempre bom conversar sobre essas criações com um leitor que apareça por aí, já que não pretendo escrever sobre cada uma. Eu lhe convido a pensar a vida através do meu olhar...

Boas experiências estéticas!

ENSEJO
PRIMAZIA
EVOLVIDO
ÂMAGO
LEGADOS
RETIFICADO
ANTELAÇÃO
TEMERIDADE
SENTENÇA
REMINISCÊNCIA
INTERNALIZAÇÃO

O poder da referência

Estudos e referências
"CIRCUITO NÃO INTEGRADO"





     Essas imagens são resultados de pesquisas e estudos digitais para a HQ "Circuito não integrado". O projeto ainda está em desenvolvimento, por isso não estarão aqui detalhes descritivos da trama.
      Buscar referências para representar a realidade é um dos meus principais conceitos dentro do processo de criação. Costumo observar a natureza das formas pra tentar entender o seu dinamismo com o espaço. Mesmo que eu queira representar algo surrealista procuro antes de tudo observar seu comportamento natural. São o caso desses estudos acima, todos pensados em ambientes ficcionais, mas carregando referências da realidade. O estudo de cristais (imagem 01) é o melhor exemplo, a ideia é criar um cenário gigantesco composto por estruturas cristalinas. Para chegar nessa concepção procurei estudar o comportamento real dos cristais, mais especificamente dos cristais de Quartzo. Primeiro eu faço uma pintura de observação, em seguida crio uma nova pintura apenas com menções visuais ao que aprendi, e depois traduzo para a minha concepção visual. Esse método se repete nas demais, cada uma específica ao seu propósito.
      Com certeza essa maneira de criação me enriquece, pois além de aprofundar minhas técnicas digitais, também fortalece minha memória visual para futuros projetos artísticos. 

A chegada do futuro

E ASSIM POR DIANTE
[Re] apresentados










       Quase três anos depois retomei meu contato com o universo dos Quadrinhos e com a técnica da pintura digital.
      O tempo perpetuou, as práticas com a técnica digital ficaram um pouco repousadas, dediquei minha pesquisa visual à desenhos de observação, fotografias e esboços de momentos lúdicos, tudo o que tinha deixado de vivenciar por muito tempo.
      Agora faço parte de um coletivo de quadrinistas chamado Estação 9, um grupo de artistas que (finalmente) se reuniu para discutir e produzir histórias em quadrinhos. E como primeira ação decidimos construir e publicar nosso primeiro fanzine coletivo, ao qual estaria sendo apresentado inicialmente ao nosso curso de Artes Visuais. Resolvemos deixar a temática dessa publicação livre aos artistas, pois ainda estávamos em fase de aprendizagem grupal. Foi então que vi a oportunidade de dar continuidade a HQ-trônica "E assim por diante". Sabia que um dia poderia expandir o trabalho para novos suportes e melhores qualidades técnicas. Esse futuro chegou e  já ficou marcado!
      Essa "nova versão" da HQ sofreu muita influência das informações visuais que fui tendo ao longo do tempo. Filmes e outros quadrinhos me despertaram para o conceito imagético do trabalho. Consequentemente a qualidade técnica digital também evoluiu. Na versão anterior me utilizei do mouse como ferramenta para colorir e pintar os quadros, na época ele serviu suficientemente, mas agora trabalho com uma messa digitalizadora que além de potencializar o suporte digital, permite um certo carinho técnico que ainda não acontecia.
      Não pretendia modificar completamente a arte do quadrinho, apenas quis intensificar alguns detalhes. Inevitavelmente voltei a pesquisar os mesmos conteúdos de antes, mas também novos que fizessem amadurecer as ideias. Exemplo disso é o momento com as colunas de DNA (imagem 06), a cor roxeada da versão anterior foi opcional, mas logo descobri que ilustradores tendem a representar com tons azulados, pois eles são as opções mais próximas da composição química do ácido. E aqui destaco minha ligação metodológica com a ciência.
      Hoje olho para essas pinturas e me vejo realizado visualmente, a tecnologia chegou e me adequei dela para um fim muito esperado. A partir dessa experiência terei mais comprometimento com os quadrinhos e sem dúvida com o suporte digital.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Um novo mundo

Se deixando reinterpretar.

     







   
     As vezes penso que sou incapaz de realizar coisas simples demais. Mas logo isso é desmascarado quando o meigo se torna complexo e rapidamente compósito.
     Com um dos mais delicados e afetuosos desenhos da minha história de vida, Henrique Sampaio me faz acreditar na potencialidade contida em linhas precisas, sinuosas e encantadoras. Sua expressiva relação com as Histórias em Quadrinhos permite nele a criação de trabalhos originais, os quais são reconhecidos instantaneamente por qualquer apreciador dessa vertente artística.
     Outra incrível qualidade de Henrique, inclusive invejada por tantos, é a sua grande produção em curtos períodos. A alguns anos atrás, já pensava em me aventurar em seus desenhos, a dificuldade era escolher qual deles seria o ideal, uma vez que o indivíduo possuía uma vasta quantidade de desenhos – A maioria quadrinhos curtos de uma página. Quando finalmente pude ver todos (ou quase todos) os seus desenhos, me vi perdido em qual deles seria mais interessante, pois estava a procura de algo característico do seu traço e ao mesmo tempo propício a uma boa coloração digital. O desenho acima me convenceu ludicamente, ele praticamente resume minha interpretação dos seus trabalhos e consegue apresentar muitas assinaturas do desenhista.
     Nele pude intensificar um pouco mais minhas intervenções visuais. A começar pela coloração feita nas linhas do desenho. Talvez seja de seu conhecimento que o desenho é totalmente preto e branco quando inicial. E a partir desse momento implanto e aplico cores. É então que lhe convido a observar novamente o trabalho acima, perceba a representação do Sol, por exemplo, se pergunte como ele era antes da coloração. Henrique o desenhou com preto e, ousadamente, eu colori usando um tom quase alaranjado. Talvez não conseguisse persuadir o olhar se deixasse essa representação do Sol assim como originalmente, ao contrário do desenho de Henrique, que convence naturalmente esse elemento. Essa técnica foi muito trabalhada nessa coloração, talvez a mais usada em relação ao anteriores.
     O resultado final, quase nunca é fiel ao primeiro conceito. Quando me deparei com esse desenho fiquei preocupado com a saturação das cores que seria aplicadas. Ao se fazer uma leitura sobre os meus trabalhos anteriores, percebe-se a presença de tons frios, escuros e quase sempre realistas, o que difere extremamente desse recente. Logo procurei referenciais que me auxiliassem a adentrar nesse universo mais vivo e cheio de tons claros. Ele finda-se em algo satisfatório, pois consegui alcançar esse objetivo e ainda pude acrescentar uma parte simplista das minas concepções de cores.


Confira, também, a página com trabalhos de Henrique Sampaio no Facebook: “MoonStar”.

O inesperado elemento.

As cores e seus atrevimentos.




     No princípio sou fisgado pela grande precisão com o traço do desenho. Esse tipo de experimento consiste, em grande parte, da apreciação visual do trabalho, ou seja, meu encantamento pelo desenho acaba sendo um fator crucial para a decisão das cores e dos tons.
     Nesse caso então, preciso sutilmente apresentar meu amigo e companheiro Victor Vladmir. De longe o mais caricato ser desse planeta, carrega em si uma filosofia de vida singular, capaz de influenciar arriscadamente seus trabalhos com Histórias em Quadrinhos. Conheço esse ser humano há alguns anos e desde sempre admirei a assinatura artística que ele carrega em seus desenhos. Constantemente, em nossas infinitas conversas, costumo elogia-lo por ser capaz de ter uma identidade visual, diferentemente de mim, que ainda estou nessa jornada exploratória.
     Sobre o desenho acima, segundo o próprio Victor, trata-se de um exercício de observação feito a partir de uma fotografia. Essa que provavelmente não existe mais. Não houve uma seleção ou nem um tipo de escolha seletiva até esse desenho, embora eu conheça muitos outros trabalhos do mesmo que, também, mereceriam minha ousada coloração digital. Ao contrário dele, não tive acesso à fotografia como a base referencial, exceto pelas representações dos cavalos, os quais busquei algumas imagens da Internet.
     Todo o processo de coloração me fez estruturar esquemas visuais ainda não vistos em trabalhos anteriores. O que me faz destacar as representações das árvores – a camada desse desenho que me deixou mais acanhado. Olhando atentamente, notasse que as representações das folhas são quase que preenchidas totalmente pelo preto, ora a sombra das árvores são as plantas, ora o contorno delas indica a incidência de luz. Isso me deixou praticamente sem espaço pra aplicar cores, uma vez que não estava me propondo a colorir o preto do desenho, pois visualmente falando poderia prejudicar a imagem. E, além disso, outro fator que caracteriza esse tipo de coloração é a pouca intervenção das cores na sombra, pois nesse caso ela já é bastante apresentada pelo desenho, são poucas as partes do trabalho que levam tons escuros, a maioria ganha destaque apenas na luz e sua incidência.
     Costumo ouvir comentários falando que a coloração digital modifica demais o desenho, que preferem apenas o preto e branco. Entendo perfeitamente essa crítica, existem casos em que o desenho não é feito pensando em nem um tipo de coloração. Assim como foi esse de Victor (que por sinal prefere seus desenhos sempre em preto e branco). O que acontece aqui pode ser descrito como ousadia artística, pois vou justamente me provocar a pensar em possibilidades arriscadas dentro da visualidade. O que, fatalmente, me leva a querer continuar experimentando, já que me senti bastante realizado com o resultado final e ansioso para os próximos. 

Confira, também, a página do artista Victor Vladmir no Facebook "O BARULHO NA SALA DA FRENTE"

domingo, 12 de abril de 2015

Significativas por natureza.

“Que intrínseco seja tuas formas de iludir meu olhar”.

  

            Esse trabalho é magicamente resultado de uma experimentação/estudo abordada no Grupo de Pesquisa Ensino da Arte em Contexto Contemporâneo (GPEACC). Venho elaborando alguns outros experimentemos dentro desse espaço de pesquisa que também contemplam a representação do retrato, destaco esse pela dedicação que tive com a coloração digital.  O GPEACC é mediado partindo do princípio básico da teoria e prática, a cada encontro os participantes são provocados pela leitura de teóricos, como Elliot Eisner, John Dewey e Ana Mae Barbosa. E, de mesmo modo, partindo seus experimentos de artistas visuais, como Juan Miró e Piet Mondrian. Especialmente nesse trabalho fomos apresentados às representações das obras do artista Giuseppe Arcimboldo. Questionando principalmente o conceito de retrato. Para essa vivência qualquer linguagem visual poderia ser apropriada para a criação do retrato, tanto o Desenho, a Pintura, a Fotografia e etc. Porém, o fundamento central era representar uma pessoa, um humano, ou uma figura humana da qual fosse conhecida pelo criador, se apropriando de elementos visuais para compor a imagem.
            Não diria que escolhi representar Leandra, uma vez que ela foi sublime para a criação de alguns dos meus recentes trabalhos. Mas assim que acolhi a proposta, pensei em representar uma variada abrangente de objetos e, com a afinidade que tenho por essa mulher, essa busca com certeza seria mais prazerosa do que científica.
            A concepção visual aplicada ao uso das representações de flores e plantas culminou referencialmente da obra “The Spring”. De outras tantas maravilhosas, essa obra me guiou visualmente pelo embelezamento da figura humana mesclado com o encanto dessas formas de vidas naturais. De fato a obra caminhou paralelo a minha intenção visual, pois inicialmente queria relacionar os diversos tipos de flores com as muitas simplicidades e delicadezas exteriorizadas por Leandra, enfatizando nossa afetividade e a beleza feminina única em seu ser.
            A princípio a imagem originou-se de uma fotografia, que em seguida serviu de base para a criação de um desenho digital. Grande parte das representações das flores e plantas foi apropriada de pesquisas anteriores. O processo finaliza-se com a coloração digital, onde localizo todos os tons e as cores em cada objeto e aplico volume à imagem incrementando luz e sombra. Assim como Arcimboldo, me utilizei de um fundo com cor neutra, na busca de deixar evidente apenas o retrato. Entretanto, deixei pouco evidente alguns elementos visuais característicos de meus trabalhos, assim sendo o tom azulado e representações de estrelas.

            E por fim, infinitamente contente por essa magnífica experimentação. Hoje na objetividade de continuar com meticulosas expressões como essa.