terça-feira, 26 de maio de 2015

Um novo mundo

Se deixando reinterpretar.

     







   
     As vezes penso que sou incapaz de realizar coisas simples demais. Mas logo isso é desmascarado quando o meigo se torna complexo e rapidamente compósito.
     Com um dos mais delicados e afetuosos desenhos da minha história de vida, Henrique Sampaio me faz acreditar na potencialidade contida em linhas precisas, sinuosas e encantadoras. Sua expressiva relação com as Histórias em Quadrinhos permite nele a criação de trabalhos originais, os quais são reconhecidos instantaneamente por qualquer apreciador dessa vertente artística.
     Outra incrível qualidade de Henrique, inclusive invejada por tantos, é a sua grande produção em curtos períodos. A alguns anos atrás, já pensava em me aventurar em seus desenhos, a dificuldade era escolher qual deles seria o ideal, uma vez que o indivíduo possuía uma vasta quantidade de desenhos – A maioria quadrinhos curtos de uma página. Quando finalmente pude ver todos (ou quase todos) os seus desenhos, me vi perdido em qual deles seria mais interessante, pois estava a procura de algo característico do seu traço e ao mesmo tempo propício a uma boa coloração digital. O desenho acima me convenceu ludicamente, ele praticamente resume minha interpretação dos seus trabalhos e consegue apresentar muitas assinaturas do desenhista.
     Nele pude intensificar um pouco mais minhas intervenções visuais. A começar pela coloração feita nas linhas do desenho. Talvez seja de seu conhecimento que o desenho é totalmente preto e branco quando inicial. E a partir desse momento implanto e aplico cores. É então que lhe convido a observar novamente o trabalho acima, perceba a representação do Sol, por exemplo, se pergunte como ele era antes da coloração. Henrique o desenhou com preto e, ousadamente, eu colori usando um tom quase alaranjado. Talvez não conseguisse persuadir o olhar se deixasse essa representação do Sol assim como originalmente, ao contrário do desenho de Henrique, que convence naturalmente esse elemento. Essa técnica foi muito trabalhada nessa coloração, talvez a mais usada em relação ao anteriores.
     O resultado final, quase nunca é fiel ao primeiro conceito. Quando me deparei com esse desenho fiquei preocupado com a saturação das cores que seria aplicadas. Ao se fazer uma leitura sobre os meus trabalhos anteriores, percebe-se a presença de tons frios, escuros e quase sempre realistas, o que difere extremamente desse recente. Logo procurei referenciais que me auxiliassem a adentrar nesse universo mais vivo e cheio de tons claros. Ele finda-se em algo satisfatório, pois consegui alcançar esse objetivo e ainda pude acrescentar uma parte simplista das minas concepções de cores.


Confira, também, a página com trabalhos de Henrique Sampaio no Facebook: “MoonStar”.

O inesperado elemento.

As cores e seus atrevimentos.




     No princípio sou fisgado pela grande precisão com o traço do desenho. Esse tipo de experimento consiste, em grande parte, da apreciação visual do trabalho, ou seja, meu encantamento pelo desenho acaba sendo um fator crucial para a decisão das cores e dos tons.
     Nesse caso então, preciso sutilmente apresentar meu amigo e companheiro Victor Vladmir. De longe o mais caricato ser desse planeta, carrega em si uma filosofia de vida singular, capaz de influenciar arriscadamente seus trabalhos com Histórias em Quadrinhos. Conheço esse ser humano há alguns anos e desde sempre admirei a assinatura artística que ele carrega em seus desenhos. Constantemente, em nossas infinitas conversas, costumo elogia-lo por ser capaz de ter uma identidade visual, diferentemente de mim, que ainda estou nessa jornada exploratória.
     Sobre o desenho acima, segundo o próprio Victor, trata-se de um exercício de observação feito a partir de uma fotografia. Essa que provavelmente não existe mais. Não houve uma seleção ou nem um tipo de escolha seletiva até esse desenho, embora eu conheça muitos outros trabalhos do mesmo que, também, mereceriam minha ousada coloração digital. Ao contrário dele, não tive acesso à fotografia como a base referencial, exceto pelas representações dos cavalos, os quais busquei algumas imagens da Internet.
     Todo o processo de coloração me fez estruturar esquemas visuais ainda não vistos em trabalhos anteriores. O que me faz destacar as representações das árvores – a camada desse desenho que me deixou mais acanhado. Olhando atentamente, notasse que as representações das folhas são quase que preenchidas totalmente pelo preto, ora a sombra das árvores são as plantas, ora o contorno delas indica a incidência de luz. Isso me deixou praticamente sem espaço pra aplicar cores, uma vez que não estava me propondo a colorir o preto do desenho, pois visualmente falando poderia prejudicar a imagem. E, além disso, outro fator que caracteriza esse tipo de coloração é a pouca intervenção das cores na sombra, pois nesse caso ela já é bastante apresentada pelo desenho, são poucas as partes do trabalho que levam tons escuros, a maioria ganha destaque apenas na luz e sua incidência.
     Costumo ouvir comentários falando que a coloração digital modifica demais o desenho, que preferem apenas o preto e branco. Entendo perfeitamente essa crítica, existem casos em que o desenho não é feito pensando em nem um tipo de coloração. Assim como foi esse de Victor (que por sinal prefere seus desenhos sempre em preto e branco). O que acontece aqui pode ser descrito como ousadia artística, pois vou justamente me provocar a pensar em possibilidades arriscadas dentro da visualidade. O que, fatalmente, me leva a querer continuar experimentando, já que me senti bastante realizado com o resultado final e ansioso para os próximos. 

Confira, também, a página do artista Victor Vladmir no Facebook "O BARULHO NA SALA DA FRENTE"